30.12.10

perdido na tristeza

No dia em que te vi estava de branco, no dia em que tudo tinha mudado, tudo tinha sentido, quando tu me apertas-te a mão e me beijas-te o pescoço, fizeste eternas juras de amor, e prometes-te nunca me largar, era a pequenina, a tal, aquela. Juraste de pés juntos que aquela madrugada ia ser 'aquela madrugada', passaram dias e dias, e dias.. nem rastos de ti, nem da tua sombra. O teu perfume estava colado em mim, não saía. Os dias passavam cada vez mais devagar, eu desesperava por uma mensagem tua, por uma notícia, por um beijo teu. O meu olhar de puro, passou a ser negro, os olhos pesavam e estavam cada vez mais vermelhos, o sono era inevitável, mas ao mesmo tempo sentia o medo de te perder nem que fosse por uma hora.
Ainda tinha a esperança de ver a tal luz, o tal momento repetido.
Os dias passavam, passavam... Eu com toda tristeza, acabei por adormecer naquela angustia, haviam passado muitas semanas, e a minha mãe começava a não ter café em casa que me aguentasse.
Vejo o teu melhor amigo, a tua mãe, o teu pai, visto-me de preto igual a eles como sinal de respeito. Vejo-te deitado com um ar pálido e frio, por cima de um caixa em madeira, com rosas em cima, essa caixa estava prestes a fechar, eu só pensava que nunca mais te voltaria a ver, e que nunca mais voltaríamos a ter aquela madrugada, eu tinha deixado de ser a tua pequenina, mas pior de tudo, é que te tinha perdido a ti. Começo a chorar de imediato, não conseguia parar, era como se fosse uma torneira, uma torneira de preto e triste. Dei por mim no teu funeral.
Alguém vem ter comigo com lágrimas nos olhos e dá-me uma carta que diz o seguinte:
"Nunca te quis deixar pequenina, se alguma vez pensares que acabou, dorme, e tudo irá passar, a nossa madrugada não voltará, mas aquela noite ficará para sempre guardada. Desculpa estar a dizer-te isto desta maneira e só agora, mas não vi forma de estar contigo, sem reparares no meu estado, estou com um cancro maligno e não te queria preocupar, se alguma vez choras-te por mim, ou por alguém, não continues, não penses no que ficou para trás, segue os teus sonhos, e nunca te prendas no passado, jura-me que serei para sempre aquele grande, e tu a minha pequenina. Se calhar não te voltarei a ver, pois estou com muitos tratamentos, e muito mal de saúde. Desejo-te as maiores felicidades do mundo, pequenina. Nunca te esquecerei. saudades.. pedro"
De imediato, corro para cima  do caixão e só peço o teu perdão, por ter perdido tempo sem falar contigo, e por me ter preocupado apenas com as minhas lágrimas e não com o teu sofrimento.
Por vezes o humano é muito egoísta, e só pensa em si próprio olhando para o espelho e vendo por vezes um fracasso, e não a tristeza dos outros, que no entanto, podem estar com um sofrimento multiplicado.

(quero agradecer a uma pessoa muito especial que faz com que estes textos todos se tornem mais real, a pessoa que me deixou no abandono, durante muito tempo,. obrigada)

Sem comentários:

Enviar um comentário